“Encontrei um crânio com três pares de presas perto da ravina. Levei as presas de baixo como troféu. Naquela noite, algo arranhou minha tenda... e meu machado desapareceu.”
- Relato anônimo gravado em uma pedra próxima ao Círculo de Gelo Cantante, Freljord
Os Javalis de Caça são criaturas tão comuns quanto perigosas nas terras congeladas de Freljord. Seu corpo atarracado, coberto por uma pelagem espessa e um couro tão rígido que desafia até mesmo as lâminas mais afiadas, é adaptado para sobreviver às intempéries. Três pares de presas curvadas destacam-se em sua anatomia: duas na mandíbula inferior, usadas para escavar o gelo em busca de raízes e líquens, e um par menor logo abaixo dos olhos, mais decorativo que funcional. Nas costas, espinhos pontiagudos, semelhantes aos de um ouriço, servem como defesa contra predadores como os lobos Glacipresas. Apesar de sua aparência intimidante, são criaturas distraídas, muitas vezes alheias aos arredores até que se sintam ameaçadas.
Os Freljordanos os caçam por sua carne resistente e pelos espinhos, usados na confecção de ferramentas. Durante o inverno, quando os cristais de gelo afloram na superfície, os javalis são vistos mastigando essas formações — não por necessidade nutricional, mas por um hábito peculiar. Pastores das tribos do sul acreditam que o ato alivia a coceira causada por parasitas sob sua pele grossa. Um caçador das Garras do Inverno, de nome Bjorn, explicou-me: "Eles são burros como pedras. Se você não gritar ou pisar em um galho, pode passar a três metros sem que notem. Mas se um espinho espetar seu pé... bem, aí você vai entender por que chamamos eles de 'porcos-espinhos de aço'."
Minha primeira observação ocorreu nas Planícies de Lissandra, onde um grupo de javalis pastava próximo a uma geleira. Moviam-se lentamente, fuçando a neve com as presas inferiores, enquanto os espinhos dorsais balançavam como folhas secas. Apesar de seu tamanho (um macho adulto pode atingir o peso de dois homens armados), pareciam indiferentes aos urubus que circulavam acima. Aproximei-me cautelosamente, seguindo o conselho de Bjorn: "Ande como o vento, não como um urso bêbado." Por minutos, tudo correu bem — até que meu pé quebrou acidentalmente um cristal de gelo. O som, leve como um estalo de dedos, fez com que o javali mais próximo erguesse a cabeça. Seus olhos pequenos, de um marrom opaco, fixaram-se em mim. Esperei o ataque, mas ele apenas bufou, voltando a escavar o solo. Os outros nem sequer pausaram sua mastigação rítmica.
Não são criaturas de hábitos complexos. Seus abrigos são simples depressões no gelo, forradas com galhos e musgo seco, onde descansam após horas de pastoreio. Durante tempestades, enterram-se parcialmente na neve, usando os espinhos como barreira contra o vento. Uma curiosidade notável é sua interação com lobos Glacipresas: embora sejam presas, os javalis raramente fogem. Em vez disso, encolhem-se, eriçando os espinhos, e deixam que os predadores se cansem de morder seu couro impenetrável. Um velho contador de histórias em Avarosa riu quando comentei isso: "Os lobos aprendem rápido. Só os mais jovens ou famintos atacam javalis. O resto prefere carne mais macia... como a de caçadores incautos."
Em uma manhã gélida, observei uma fêmea guiando três filhotes através de um campo de gelo rachado. Os pequenos, com espinhos ainda flexíveis, tropeçavam e rolavam, enquanto a mãe pacientemente os empurrava com o focinho. Ao final do dia, a mesma fêmea afastou um lobo solitário com um único movimento de cabeça, espetando-lhe o focinho com uma presa inferior.